O circuito fashion da decoração em São Paulo
Revista Casa & Conforto - Ano 8 - Nº 35 Out/Nov 2012
Por: Denise Guarezzi
O circuito fashion da decoração em São Paulo
Casa Cor, Casa Cor Stars e Mostra Black
A Casa Cor, que desde 2006 acontece no Jockey Club, apresentou sua 26ª edição. Evento que visito desde o 1ª ano, quando acontecia em belas mansões de bairros elegantes, exceto as edições de 2000, montada no galpão da Cinemateca Brasileira, antigo Matadouro Municipal, de 2002, numa antiga unidade da FEBEM (ambos patrimônios históricos) e de 2003, a maior delas, nas instalações abandonadas do Hospital Matarazzo. Os cenários ficavam sob responsabilidade dos grandes nomes da arquitetura, design e paisagismo da cidade.
A princípio, a mostra, que sobrevivia dos seus patrocinadores, era conceitual quase como os desfiles de moda que apresentam soluções pouco utilizáveis. Mas as indústrias do segmento apoiavam tais profissionais, cujas criações serviam de laboratório para o desenvolvimento de novos produtos. Hoje virou uma empresa, tornando-se o maior evento de decoração das Américas, com edições no Chile, Uruguai, Peru e Panamá e o 2º maior do mundo, atrás do Salão de Milão. Esta edição, dividida entre Casa Cor, Casa Hotel e Casa Talento Fashion, com apenas 70 ambientes elaborados por nomes pouco conhecidos, apostou na integração da moda, estilo e tecnologia.
Em artigo sobre o Salão de Milão que escrevi para esta revista em 2010, já havia detectado “a polêmica e crescente presença dos grandes estilistas da moda no mercado do design, com suas ‘Home Colections’, sob a insígnia do excêntrico e da exclusividade.” Era a retomada do antigo conceito de vestir a casa, com estilistas como Armani, Kenzo, Fendi, Missoni entre outros. Esta tendência do universo fashion invadir a casa, criando um novo estilo de morar, chegou aqui pelas mãos de Adriana Barra, Thaís Gusmão, Irmãos Campana, Alexandre Hercovitch, Ronaldo Fraga, Amir Slama e Jum Nakao (que estreou como convidado especial na Casa Cor, com um ambiente onírico para o qual desenhou móveis-conceito). Afinal fashion é morar bem! Sob este tema, a Mostra deste ano homenageou Gisele Bündchen.
Visível a repetição da tendência retrô e cada vez mais o apelo sustentável, presente na parceria com uma empresa especializada em reciclagem para processar os resíduos sólidos gerados durante o evento, também no lançamento do Ecoinox, um aço resistente à corrosão química e atmosférica, sem cromo, em respeito ao meio ambiente, bem como nas madeiras de demolição e troncos de árvores inteiros que se transformaram em móveis, floreiras e outros objetos. Forte ainda a tecnologia Blue Touch, onde o controle das funções acontece com um simples toque.
Mas “faltou novidade” disse Fábio Novembre, conceituadíssimo arquiteto e designer italiano em brilhante palestra no evento paralelo Casa Cor Stars, criticando também a falta de visão dos profissionais que se preocuparam em reproduzir o cenário internacional ao invés de desenvolver novas idéias. Enfatizou o momento econômico importante em que vivemos e acrescentou que “não tem sentido importarmos produtos com design Europeu”, recomendando que “os brasileiros redefinam seu ponto estético a partir da própria realidade e cultura” inspirando-se nas próprias raízes, como ele faz. ”Não vi a alma brasileira” completou, elogiando ainda o trabalho dos Irmãos Campana. Concordo com ele: faltou ousadia aos novos protagonistas. Nada surpreendeu! Senti-me visitando uma loja especializada.
Por outro lado, com o objetivo de propor um olhar alternativo, inovador e ousado, nasceu em 2011 a Mostra Black, oferecendo liberdade para os profissionais desenvolverem seus projetos num espaço pré-estabelecido, solicitando apenas que interpretassem o seu conceito Black, sem a definição de temas ou cores. Instalada este ano numa mansão dos anos 60, nos Altos de Pinheiros, contou com 22 generosos espaços elaborados por grandes nomes da cidade (a maioria dissidentes da Casa Cor) além de expoentes de outros estados, apresentando ao público o melhor da produção brasileira neste segmento, evidenciando a personalidade dos seus criadores. A tendência, exceto nos dois ambientes totalmente brancos, foi a mistura de cores, estampas e materiais, conceito oposto ao do estilo minimalista, onde o menos é mais!
Para encerrar, transcrevo a instigante frase que anotei na palestra de Fábio Novembre: ”se os profissionais se adaptarem a reproduzir somente modelos de bom gosto, não conseguirão dar o salto necessário para colocar o design do Brasil em destaque”.
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